Esta é a introdução, seguida do sumário, da etnografia sobre mobilidade de mulheres: um produto do Relatório final da pesquisa Como viver junto na cidade.
O desafio de concluí-la será considerado superado quando todos os verbetes associados a esta etnografia não mais estiverem marcados com a tag “pendentes”. No entanto, a cada nova informação encontrada mesmos os verbetes considerados prontos poderão ser revistos, pois esta é uma etnografia em processo de elaboração permanente. Novos documentos encontrados que, por ventura, não tiverem uso imediato na etnografia, serão postados provisoriamente nas considerações finais até o momento em que puderem ser incorporados.
Desde já, fica registrado que contamos com a ajuda de quem nos lê, sugerindo a incorporação de documentos aqui não contemplados. Eles, certamente, são muitos. Não encontramos ainda, por exemplo, um guia ou uma cartilha com conselhos às mulheres sobre como elas devem se portar ao usar os transportes públicos. Nessa linha, encontramos apenas uma publicação inglesa de 2013 que anuncia-se como um “handbook for the chic cyclist“.
À primeira vista pode parecer estranho falar em guias de como a mulher deve proceder ao usar os transportes públicos. No entanto, o Guía de la buena esposa, presumidamente editado na Espanha em 1953 com “onze regras para manter o seu marido feliz”, mostra que tudo é possível quando se trata de oprimir mulheres. Bem parecido com ele é o guia The good wife’s guide que teria sido publicado em 1955 nos Estados Unidos. Por hora, como na internet é grande a quantidade de fakenews, tomemos esses dois guias – sejam eles falsos ou verdadeiros – como curiosidades.
A suposta autora do Guía de la buena esposa (1953) ensina às mulheres espanholas, entre outras coisas, que os assuntos do marido são mais importantes que os da esposa e que ela deve sempre escutá-lo. A última página do guia é ilustrada com uma mulher de avental usando um, então moderno, aspirador de pó para concluir que Uma boa esposa sempre sabe qual é o seu lugar. No guia estadunidense, de 1955, ensina-se o mesmo: “A good wife always knows her place”.
Esta etnografia será longa, pois nela serão costuradas, uma a uma, as informações sobre a mobilidade de mulheres, em especial as informações sobre a mobilidade urbana de mulheres, publicadas nas postagens da Biblioteca do LevanteBH.
Um aviso ao leitor que, por acaso, achar alguma parte do texto confusa ou desconexa: estou aqui escrevendo, on-line, como se estivesse preparando um artigo ou um ensaio em meu computador. A diferença é que aqui escrevo de forma que qualquer pessoa pode ler, mesmo que o texto não esteja ainda concluído. E ele nunca estará, pois como antecipei na postagem sobre tempo e memória, na Biblioteca do LevanteBH cada verbete é sempre um rascunho pronto para ser aperfeiçoado, rabiscado ou eliminado.
O presente verbete, denominado etnografia de mobilidade de mulheres (introdução e sumário), é o inicial do assunto. Daqui podem ser acessados os demais verbetes que o sucedem, um a um, seja na ordem por nós escolhida para itemizar a etnografia, seja diretamente nos assuntos que, pelos títulos, mais interessarem a quem a lê.
Que o leitor deste verbete, portanto, sinta-se à vontade para percorrer livremente mais esses labirintos da nossa biblioteca e, se quiser, nos enviar alguma mensagem.
O ponto de partida desta etnografia é um paper que começou a ser escrito logo após a publicação do artigo Los espacios de movilidad urbana de las mujeres y los significados de las restricciones sociales, culturales y materiales. Escrito em português com Candice Vidal e Sousa, foi traduzido para o espanhol por Ana Marcela Ardila e integra o livro La sociabilidad y lo público: experiencias de investigación publicado pela Editorial Pontificia Universidad Javeriana de Bogotá.
À época do lançamento do livro La sociabilidad y lo público: experiencias de investigación na Colômbia, em 2017, iniciei no Brasil a expansão da etnografia nele contida. Abandonei essa atividade antes de concluí-la. O que se lê aqui no website do Levante-BH é uma retomada on line de uma empreitada interrompida. Iniciada em 2019, observe-se que aqui foi adotada uma itemização inexistente no artigo que lhe deu origem. Assim o fiz para facilitar tanto a compreensão do conjunto quanto a leitura dos verbetes, pois o resultado final ficou com tamanho bem maior que o texto original.
Antes de prosseguir, é conveniente deixar aqui um alerta ou, como fizeram Henri Lefèbvre em O direito à cidade e Le Corbusier em O urbanismo: uma advertência. Este é um texto de um pesquisador homem que fala sobre mulheres e, portanto, não posso nele expressar o que pensa ou sente uma mulher sobre o assunto.
Parafraseando o filósofo Mário Sérgio Cortela, aqui produzo um texto “sobre” mobilidade de mulheres e não, um texto “de” mobilidade de mulheres. No entanto, posso afirmar que aqui produzo um texto que interessa a todas as pessoas que se interessam pela busca de cidades inclusivas, seguras e sustentáveis para todas as pessoas.
Como falaremos sobre mulheres, iniciemos este texto com o que disseram algumas sobre elas mesmas. Essas palavras, desde já, dão uma pista do que virá adiante e, por conseguinte, do que se pode esperar deste texto que fala sobre a mobilidade delas:
- Eliane Brum no catálogo da ópera Prism alerta: “Ser mulher é ser um corpo que não se sente seguro em lugar algum.”;
- Lina Bo Bardi em bilhete manuscrito na exposição A arquitetura política de Lina Bo Bardi confidencia: “Fiquei apavorada de ter nascido mulher, depois procurei me ajeitar.”;
- Madonna em discurso de agradecimento pelo prêmio Billboard Woman in Music, contando sobre um momento crucial em sua carreira, denuncia: “Essa foi a primeira vez que eu realmente entendi que mulheres não têm a mesma liberdade dos homens. Eu me senti paralisada.”;
- Simone de Beauvoir em O segundo sexo ensina: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher.”.
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Deixemos claro, nesta introdução da etnografia sobre mobilidade de mulheres da Biblioteca do Levante-BH, qual é o nosso objetivo principal, formulado como um desafio. Nosso objetivo é transformar uma profusão de informações, recolhidas as longo do tempo, em uma narrativa que, de alguma forma, ajude cidadãos e tomadores de decisão a melhor conhecer o assunto.
Assim fazendo, o Levante-BH pode contribuir, de forma efetiva, para que governo e sociedade possam intervir na realidade em busca do direito à cidade, também, para as mulheres. A narrativa aqui apresentada é uma forma de resistência micropolítica, expressão usado por Marilene Filinto ao comentar a obra de Paul Preciado. Vale destacar, aproveitando um pouco do que propõe esse filósofo queer: esta que você está lendo e as demais narrativas resistentes publicadas em nossa biblioteca são – todas – copyleft e não copyright. A seguir, o sumário da nossa etnografia.
SUMÁRIO
ETNOGRAFIA SOBRE MOBILIDADE DE MULHERES
Introdução
1 Registros da separação entre mulheres e homens
2 Transporte em bicicleta (verbete em início de construção)
3 Transporte a pé (verbete em início de construção)
4 Transporte por tração humana
5 Transporte por tração animal (verbete em início de construção)
6 Transporte privado individual motorizado e seus estacionamentos (verbete em início de construção)
7 Táxi (verbete em início de construção)
8 Transporte coletivo motorizado (verbete em início de construção)
9 Sinalização de trânsito (verbete em início de construção)
10 Mulheres trabalhadoras na mobilidade urbana (verbete a ser criado – provisoriamente acesse aqui)
11 Considerações finais (verbete em início de construção)
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Se, no entanto, você avalia que há algo nessa postagem que precisa ser revisto, por favor deixe a sua sugestão para que possamos melhorá-la.
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postagem original de 23 de novembro de 2019
ajustes em 4 de abril de 2020, durante o isolamento social imposto pelo Covid-19, especialmente para compartilhar com Kênia Figueiredo
ajustes em 29 de novembro de junho, ainda isolado
ajustes em 28 de janeiro de 2022, ainda isolado, compartilhando o link com Viviane Goulart
ajustes em 16 de março de 2022 ao criar postagem sobre a primeira mulher gestora da Estação da Sé, quando me dei conta de que não havia um item específico para incluir essa informação na etnografia
ajustes em 21 de setembro de 2023 quando, finalmente, liberei o acesso a esta postagem
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referência
OLIVEIRA, M.F. (2019n): OLIVEIRA, Marcos Fontoura de. Mobilidade de mulheres: introdução e sumário. Levante-BH, Belo Horizonte, 23 nov. 2019 [última atualização em 21 set. 2023]. Disponível em: Levante-BH. Acesso em: dd mm aaaa.