O SOL (2023): O SOL DO FUTURO. Direção: Nanni Moretti. Roteiro: Francesca Marciano, Nanni Moretti. Elenco: Nanni Moretti, Margherita Buy, Silvio Orlando. Título original: Il sol dell’avvenire. Itália, 2023. vídeo, cor, 96′. Título original: Il sol dell’avvenire. No Brasil, o filme chega com péssimo título: “O melhor está por vir”.
Trecho de crítica (link externo): Il sol dell’avvenire (O Sol do Futuro, 2023) começa em 1956, acompanhando Ennio, o director de L’Unitá, jornal do Partido Comunista Italiano (PCI), no momento em que o seu bairro recebe uma delegação dos camaradas de um circo da Hungria, precisamente na altura em que eclode em Budapeste uma revolta dos trabalhadores e estudantes contra o regime estalinista húngaro, colocando em causa a fidelidade do PCI em relação ao regime soviético e um dilema moral para estes dirigentes: colocar-se do lado dos revolucionários ou do lado da linha oficial Partido. Ou melhor, o filme acompanha a rodagem nos dias de hoje desse filme de época, projecto de longa data de Giovanni, alter ego de Nanni Moretti, que interpreta um realizador numa encruzilhada artística-pessoal: as pessoas à sua volta questionam as suas opções, os actores querem levar o filme numa direcção diferente, o financiamento do filme ameaça desaparecer, a sua filha não tem tempo para ver filmes com ele, e a sua produtora, a sua mulher, divide o tempo com a produção de outro filme (e um terapeuta, mas isso Giovanni não suspeita).
Trecho incial de crítica (link externo) de João Pereira Coutinho:
Você conhece aquela história do alfaiate da cidade alemã de Ulm que sonhava voar? Estamos em 1592. O alfaiate constrói uma máquina com asas. O bispo, confrontado com semelhante soberba, condena os sonhos do alfaiate.
Mas ele não desiste: para provar que o voo humano é possível, resolve saltar da janela da catedral com a sua máquina.
Para usar um eufemismo, não corre bem. O bispo tinha razão. Mas, no longo prazo, séculos depois, os homens podem voar. O alfaiate, no fim das contas, foi um visionário.
A história é contada por um poema de Bertolt Brecht que o ensaísta italiano Enzo Traverso recorda no seu notabilíssimo “Melancolia de Esquerda” (Âyiné, 495 págs.). A história do alfaiate pode ser entendida como uma metáfora do comunismo. No curto prazo, falhou. No longo, quem sabe?