Arquico em PDF recebido de Alexandre Kalache via WhatsApp em 02/11/2023.
PIMENTEL, L.C. (2023): PIMENTAL, Luiz Cesar. O Brasil precisa olhar para os sus idosos. Isto É, São Paulo, n.º 2805, p.34-39, 8 nov. 2023.
comentário: arquivo (PIMENTEL-L-C_2023_ISTO-E-pag34a39_Mat Capa) em Levante-BH.
ponto de atenção: NTL n.º 2.
trechos:
p.36:
[…] A Organização Mundial da Saúde (OMS) desistiu no último momento, em janeiro de 2022, de incluir a velhice na Classificação Internacional de Doenças (CID). Pouco antes, em plena pandemia, havia determinado os anos entre 2021 e 2030 como a “Década do envelhecimento saudável”. Só que nem organização nem o Brasil foram além de resoluções retóricas para tratar o que importa. Nos 20 anos completos em outubro do Estatuto da Pessoa Idosa brasileira, a única adaptação foi trocar o termo “idoso” por “pessoa idosa”. […]
“Os países desenvolvidos enriqueceram e depois envelheceram. Nós envelhecemos na contramão. E isso
é um nó, que demanda políticas públicas que ofereçam condições [aos idosos] em perspectiva de curso de vida. Você é na velhice o resultado dos eventos que antecederam esse período. A perspectiva é de primordial importância para que os mais jovens possam avançar na idade em melhores condições do que aqueles que já são idosos. No Brasil envelhece-se prematuramente e mal. Não adianta dizer que a pessoa devia ter comido brócolis quando não tem dinheiro para farinha e açúcar, ou que tinha que fazer atividade física se ela vai para o trabalho em péssimo transporte público, ou que podia fazer caminhadas se onde mora não tem calçamento e iluminação. É preciso oferecer as oportunidades para se alcançar um mínimo de condições de vida”, diz o epidemiologista Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil.
p.38-39:
Grande lacuna na política de cuidado sobre envelhecimento é a falta de adaptação do espaço urbano para atender a população, pensando tanto em serviços básicos como em lazer, atividades físicas e moradia. A OMS até tentou. Montou a Rede Global de Cidades e Comunidades Amigas das Pessoas Idosas, que reúne 792 localidades pelo mundo, sendo 19 brasileiras, para aplicação de elementos amigáveis à população com avanço de idade, como transporte coletivo acessível, nivelamento de calçadas, lugares para sentar, remoção de perigos nos [fim da p.38] percursos, boa iluminação (nas ruas) e banheiros públicos. Assim como determinar que os edifícios precisam oferecer elevadores, rampas, portas e corredores amplos, pisos antiderrapantes, banheiros adaptados para quem tem mobilidade reduzida e sinalização eficiente. Na prática, Summit de Mobilidade organizado pelo “Estadão” avaliou as condições de 27 cidades e nenhuma chegou à pontuação mínima de oito pontos, em escala de um a dez, de condições satisfatórias. Foram encontradas majoritariamente calçadas estreitas, danificadas, degraus, postes e obstáculos, faixas de pedestres apagadas, falta de semáforos além de ausência ou falta de manutenção em rampas, o que levou a média nacional para 5,71. “Nós precisamos que todos aprendam mais sobre envelhecimento. Não estamos formando profissionais para o século 21 e estamos de costas para o futuro. Entre os médicos residentes cerca de 10% optam por Pediatria, outros tantos por Obstetrícia, e pouco mais de meio por cento por Geriatria. Não dará certo assim. Precisamos de muita gente trabalhando. São planejadores urbanos, designers, arquitetos, políticos, advogados. Como teremos menos e menos jovens, é preciso criar incentivos para que os mais idosos sigam ativos, participando integralmente da sociedade. Para isso três coisas são essenciais: saúde, aprendizagem ao longo da vida e direito à participação. O mundo muda à medida em que envelhece; em nosso caso, rapidamente”, diz Kalache.