CASTRO, R. (2023a): CASTRO Ruy. Ruy Castro critica ‘boca imunda’ de Bolsonaro em discurso na ABL; leia íntegra. Folha de S.Paulo, São Paulo, 5 mar. 2023. Disponível em: internet (link externo). Acesso em: 6 mar. 2023.
tercho:
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E quem não gostaria de ser um inventa-línguas, como Otaviano foi? Em outra carta, de 1848, Otaviano tomou emprestado aos franceses o verbo “flâner” e o transformou em “flanar”, no mesmo sentido de passear, andar ao léu —quase 60 anos antes de a expressão se consagrar na pena do grande João do Rio. Em 1847, Otaviano já usara em carta outro verbo inédito, talvez de sua lavra: “balzaquear”, no sentido de entregar-se à imaginação, escrever em pensamento, ser um Balzac sem compromisso. E aventuro-me a dizer que Otaviano é merecedor de outra láurea tão importante quanto pouco conhecida: a de ter sido o pioneiro da crônica no Brasil.
O que é a crônica? Um misto de peça literária, artigo de opinião, pequena reportagem, confissão pessoal, fofoca política, registro mundano, tudo ou quase tudo no espaço de cerca de 50 linhas. A crônica é um minijornal feito por uma só pessoa. Seu assunto pode ser tanto o cotidiano quanto a eternidade —o que o cronista preferir. É um texto que se escreve com as pernas e, às vezes, em cima da perna, de tão à vontade. Digo com as pernas porque os personagens de que trata uma crônica não precisam parar para pensar —pensam andando mesmo. A crônica pode ser tudo, menos um texto de gabinete. O cronista é um flâneur que é pago para escrever. Daí o Rio, que sempre foi a cidade perfeita para flanar, ser historicamente o cenário natural da crônica.
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