TODOS NÓS (2023): TODOS NÓS DESCONHECIDOS. Direção: Andrew Haigh. Reino Unido, 2023. vídeo, cor, 105 minutos. Título original: All of Us Strangers.
Crítica de Geraldo Martins no Instagram:
“All of Us Strangers / Todos nós desconhecidos” (2023) de Andrew Haigh é outra volta à solidão, ao amor e à morte. O diretor mergulha no abismo do mar da memória: a procura do tempo vivido. As viagens no trem veloz de Londres, onde Adam vive, para uma cidade do interior, casa dos seus pais, são uma metáfora da escrita dele. Viagens frequentes para encontrar os pais da sua memória de criança e dialogar com eles sobre os dias atuais, atualizam medo, solidão e amor. Seu texto se faz presente nos diálogos desses encontros. Além das visitas de memórias, vemos seu romance com Harry. O edifício onde Adam e Harry vivem é sombrio, como o mundo melancólico de ambos. Na casa da infância de Adam há cores vivas e calorosas. Há Natal. Adam quer que seus pais o conheçam; eles também querem conhecê-lo e querem saber o que desconhecem de si mesmos. Não estamos diante do romance familiar freudiano, onde os pais não são bons. Adam ficciona que seus pais eram bons e amáveis. Ele está no desejo e no amor dos pais. Esse é um arranjo necessário para revestir sua melancolia e sua solidão. Belo arranjo. Encantador filme, mesmo com tanta dor. As músicas que tocam na vitrola dos pais e no seu apartamento são o estado de espírito da memória. A memória, na sua função de lembrança encobridora, vai nos revelando o romance que Adam escreve. O passar do trem e o movimento das cenas revelam a escritura. Adam não está só, ele tem lembranças: escrita da ficção.
Imperdível
Geraldo Martins – Psicanalista