BELAVINHA, J. (2023): BELAVINHA, Jussara. Chega de morte! O Tempo, Belo Horizonte, 21 jun. 2023. Disponível em: link externo. acesso em: 26 jun. 2023.
OPINIÃO
Chega de morte!
Reduzir a velocidade no trânsito para enfrentar o avanço dos acidentes
Por Jussara Bellavinha
É assustadora a quantidade de mortes no trânsito no Brasil. Belo Horizonte, que vinha em um bom caminho, reduzindo ano a ano as mortes no trânsito, sofreu um revés e desde 2019, mesmo com a pandemia, as mortes voltaram a crescer. Só há um jeito de enfrentar rapidamente esse problema: diminuindo a velocidade no trânsito.
Comprovadamente, por estudos da OMS, reduzir a velocidade máxima de 60 km/h para 50 km/h diminui em 29% o risco de acidentes com feridos e em 31% o risco de sinistro com morte. Ninguém quer que um ente querido pague com a vida porque as pessoas querem chegar um, dois minutos mais cedo ao seu destino. É isso mesmo, testes feitos na cidade de Campinas mostram que em uma avenida da extensão da avenida Cristiano Machado (12 km) a diferença final entre uma viagem com limite máximo de 60 km/h e outra de 50 km/h foi de exatamente de dois a três minutos.
E tem mais, a velocidade inapropriada afeta não somente a probabilidade do acidente, mas também a sua gravidade. Em áreas urbanas, o principal tipo de acidente é o impacto lateral nos cruzamentos. De acordo com as regulamentações de veículos da ONU, os veículos são projetados para limitar o impacto do acidente sobre os ocupantes e os pedestres a níveis de sobrevivência em impactos laterais com velocidades de até 50 km/h (global-plan-for-road-safety-2021-2030-pt.pdf).
Quando se trata de atropelamentos, o excesso de velocidade toma proporções ainda maiores. De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), o risco de morte para pedestres atingidos frontalmente por automóveis aumenta consideravelmente (4,5 vezes) de 50 km/h para 65 km/h. Em 2021, último ano com a estatística de morte em até 30 dias concluída, 64 pessoas morreram por atropelamento em Belo Horizonte. Os idosos são as principais vítimas. A alta velocidade impossibilita o idoso de reagir a tempo. Um terço dos atropelamentos foi por motos.
E tem mais: acidentes de trânsito são causadores de congestionamentos. Em Belo Horizonte, em 2022, tivemos 33 acidentes com vítimas por dia. O impacto é de pelo menos uma faixa de tráfego interrompida por uma hora até o atendimento do Samu e mais duas horas para dissipar o impacto e o trânsito voltar ao normal.
Em São Paulo, depois que a velocidade das vias arteriais passou a ser de 50 km/h, o índice de lentidão caiu 21% no pico da tarde. De forma geral, o trânsito passou a fluir de forma mais homogênea.
Outro fator que devemos considerar é o aumento de motos circulando. Um acidente envolvendo motos dificilmente não terá vítima. Além do crescimento das mortes de motociclistas, um número enorme deles, todo ano, fica afastado do trabalho cuidando das lesões, que muitas vezes serão permanentes. Os acidentes de trânsito com motos estão gerando no Brasil um verdadeiro exército de inválidos. Não é muito melhor reduzir a velocidade?
O trânsito interfere diariamente em nossas vidas, seja quando somos condutores, passageiros ou pedestres, e a mobilidade segura é uma necessidade humana básica, que devemos reivindicar.
Jussara Bellavinha é coordenadora de Projetos Especiais e Segurança no Trânsito da BHTrans