pendente corrigir para MATA
ALMEIDA, G.A. (2024a): MATA, Gisleide Gonçalves de Almeida da. Caminhos para a opacidade: um percurso filosófico em Édouard Glissant. Dissertação apresentada à banca avaliadora do mestrado em Filosofia da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje), como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Filosofia. Belo Horizonte, 26 abr. 2024. 121p. Banca: Cláudia Maria Rocha de Oliveira (orientadora); Clóvis Salgado Gontijo (coorientador); Marcos Fontoura de Oliveira (rede LevanteBH / IST-ULisboa); Georgia Amitrano (UFU).
ALMEIDA, G.A. (2024b): ___ (versão publicada – PENDENTE – em breve). Disponível em: link externo. Acesso em: dd mm aaaa.
OLIVEIRA, M.F. (2024m___): _______________. Apontamentos _________. LevanteBH, Belo Horizonte, 26 abr. 2024.
comentário: Acesse também: direito à opacidade.
rascunho da minha fala na arguição:
Agradecimentos pelo honroso convite.
Penso que nossa leitura da obra de Édouard Glissant foi fortemente impactada pela visita à 34ª Bienal de São Paulo. Nessa exposição, que durou de setembro a dezembro de 2021, ainda durante a pandemia, o Sino de Ouro Preto nos aguardava logo na entrada do pavilhão da Bienal, no topo de uma rampa. Ele me levou a produzir o ensaio publicado na revista Barroco que deu origem ao livro “Ouro Preto e o Futuro”. Você produziu essa dissertação que tive o prazer de ler e me deu a honra de nela ler a sua leitura do meu livro. Fiquei emocionado de saber que eu havia, nas suas palavras “ilustrado a estética do opacidade”.
Você não disse no seu texto, mas eu vou destacar aqui, o nome da 34ª Bienal: “faz escuro mas eu canto”.
Vou ler aqui um trecho da explicação para a escolha desse nome, publicada no website da Bienal uma nós lemos:
O poeta amazonense Thiago de Mello escreveu o poema “Madrugada camponesa” entre os anos de 1962, no estado do Amazonas, e 1963, em Santiago, no Chile. Os últimos dois versos desse poema são: “Faz escuro mas eu canto/ porque a manhã vai chegar”. Versos de esperança endereçados aos que atravessavam a noite do campo e precisavam plantar verdade, alegria e amor para um futuro iminente. Era um tempo com algumas promessas de transformação, regadas por projetos progressistas e algum desejo de expansão dos direitos mais básicos, como a educação.
Sabemos bem o que aconteceu em 1964. Thiago de Mello foi preso em 1968. Nessa mesma página do website da 34ª Bienal lemos que o poeta:
conta que entrou na prisão temeroso por seu destino. Encontrou, então, na parede da estreita cela, seus versos rabiscados pelo preso anterior: “Faz escuro mas eu canto/ porque a manhã vai chegar”. Sussurro e resistência. Retomou então suas forças e deve ter aprendido algo sobre a potência da poesia.
Quero aqui, então, seguindo os passos do poeta, dizer que sua dissertação me deu ânimo a continuar pesquisando, trabalhando e propondo. Ontem à tarde fui a uma manifestação contra a extinção do BDMG Cultural, decidida monocrática e autoritariamente do Governo de Minas.
Vamos à arguição:
Inicialmente, quero lhe fazer uma oferta. Como eu anotei tudo que pensei enquanto lia seu texto, posso lhe emprestar os meus rabiscos ou posso, melhor ainda, organizar as minhas anotações de forma mais inteligível para compartilhá-las com você. Posso lhe indicar algumas sugestões de ajustes na forma de escrever que deixarão o seu texto mais limpo e mais fluido. Muitas das minhas sugestões estão no lançamento de citações, nas referências (que não são “referências bibliográficas” como está escrito) e nas notas de rodapé. Você usou alguns padrões distintos de escrita ao longo do texto e melhor seria buscar uma uniformidade. Outros problemas (pontuais) são estilos de escrita que eu gostaria de lhe apontar formas diferentes de escrever a mesma coisa. Se você gostar, você incorpora. Se você não gostar, o texto fica como está. Insisto: seu texto não tem erros, mas pode ficar com leitura mais agradável. Mais um exemplo: eu retiraria quase todo o negrito do sumário, deixando apenas no título e, talvez, nos nomes dos capítulos. faria alguns testes até deixar plasticamente mais agradável.
Um destaque, ainda sobre a forma do seu texto. Gostei de sua escolha em não fazer a referência dentro do texto e sim nas notas de pé de página. Se isso é permitido pela Faculdade Jesuíta, sorte a sua. Eu não tive esse sorte na PUC e nem na FJP. Pude fazer apenas nos trabalhos, mas não na entrega do texto final da dissertação e nem da tese. Para a escrita dessas notas, vou lhe sugerir um padrão bem mais limpo.
O que me interessa, especialmente no seu texto, é a opacidade como “direito à diferença”. É com isso que eu trabalho há quarenta anos, sempre na gestão de cidades. Suas reflexões precisam ser compartilhadas com mais pessoas. Eu trouxe aqui uma amiga que vai querer ler sua dissertação, mas a maioria das pessoas só a lerá se você a transformar em um livro. Adoraria relê-la em uma publicação da Cobogó, prima do livro “Conversas do arquipélago’.
Vamos, então, ao conteúdo. Na página 17 você afirma que “a polis, naquela época (e ainda hoje), não garantia direitos”. Ora, isso contraria um antigo ditado alemão que diz exatamente o contrário: “o ar da cidade torna você livre”. Como você, nesse ponto do seu texto, está se referindo aos estrangeiros, talvez seja o caso de reescrever para não deixar dúvidas do alcance da sua afirmação. Esse “ainda hoje” me pareceu não estar sustentado em algo.
Na p.18 você diz que “[…] os negros […] foram despejados por todos os continentes […]”. Ora, na Austrália, por exemplo, os escravizados foram as populações autóctones das ilhas do pacífico e da própria Austrália. As estórias que já lemos sobre os colonos britânicos nesse lugar são horripilantes.
Uma sugestão pontual é você abandonar a palavra “descobrimento” ao se referir à invasão europeia das Américas. Ela é usada muitas vezes.
Na p.30 você constrói uma parágrafo que gostei muito. Ele termina com “o direito de celebrar a diversidade”. Me lembrei da peça “Meu corpo está aqui”. Fui sem expectativas e gostei bastante. Me lembrei também do Fórum TEA do qual participei nesta semana.
Gostei especialmente do seu capítulo 3, onde você propõe “o eco-mundo e o caos-mundo como a ética e a estética da opacdade, respectivamente” (p.81). Li com grande prazer cada palavra.
A questão central que gostaria que você comentasse é: como é que pessoas como nós, para quem o direito à opacidade é fundamental, podem fazer chegar esse conceito à população que não teve acesso às nossas leituras? Como transformar isso em algo palpável, prático e desejável? Eu lhe pergunto isso com muita tranquilidade, pois a minha pesquisa de pós-doc chama-se “Como viver junto na cidade”. Meu objetivo é fazer propostas concretas capazes de melhorar o dia-a-dia das pessoas que não estão tendo suas opacidades respeitadas. A quase maioria sequer sabe que direito é esse.
Como incorporar no nosso dia-a-dia ações que contribuam para o direito à opacidade? Como estar em uma fila de supermercado e ter consciência que em determinado momento aquela criança birrenta à sua frente pode ser uma criança autista ou não? Como ser alguém que contribui para a opacidade e não para a opressão? Mais uma vez, eu insisto: a sua dissertação precisa ser lida por muitas pessoas!
Como não sou um estudioso da filosofia (sou das Ciências Exatas), gostei de saber que “Aristóleles foi quem primeiro pensou e formulou a ética como uma ciência prátca, cujo propósito não se restringe ao mero conhecimnto, mas se atém à qualidad de nossas ações que levam ao aperfeiçoamento ético”. Isso tem profunda aderência à minha aposta na gestão de cidades: atenção aos princípios e não às gegras. O caso de Drachten (Holanda) é emblemático.
Na pagina 86 você afirma que “a noção de eco-mundo glissantiano contempla a ecologia”. Eu lhe pergunto; como fazer com que os defensores da sustentabilidade defendam a acessibilidade e vice-versa? Como fazer com que pretos defendam direitos de cegos, que surdos defendam direitos de cadeirantes? Casos pontuais acontecem, mas são apenas pontuais. Penso que é na gestão das cidades que encontraremos essa resposta, mas gostaria de ouvir o que você pensa sobre isso. Em outras palavras, usando as suas próprias palavras na sua última frase: como abrir veredas e construir caminhos para a opacidade?
Nesse capítulo final, antes das considerações finais, você faz uma leitura comovente do meu livro. Prefiro nem comentar, só agradecer. e aguardarei os comentários dos demais colegas dessa banca. Para os que não leram o livro, eu preciso lhes dizer que Narcisa Ribero, aquela que vira estátua no final do ivro, só queria andar usando sapato, não ter que ir à missa e vestir-se como as mulheres brancas. Nada mais! Ela é um bom exemplo da crioulização de Glissant: ela nã queria ser barnca e nem preta, queria ser Narcisa. Claro que digo isso a partir de fragmentos historicos que transformei em literarura. Não posso sequer afirmar que ela tenha existido tal como eu a imagino.
Quero concluir minha arguição, que é mais um elogio ao seu trabalho que uma arguição, buscando o que você diz sobre “ser ético e fazer escolhas éticas”. Na p.88 você diz: ___. Ao ler esse trecho decidi que na segunda-feira enviarei aos integrantes dessa banca um e-mail convidando vocês a integrarem a rede de cidadãos que estou instituindo como um produto do meu pós-doc. Me aguardem.
Obrigado, Gisleide, pela oportunidade de estar aqui nessa sua banca. Mais uma vez: parabéns!
a seguir, trechos e apontamentos a partir do texto apresentado à banca seguindo a paginação da dissertação:
Agradecimentos
À Marcos de Oliveira, pela cumplicidade neste projeto, por se dispor a avaliá-lo e
por Ouro e o futuro [correção: Ouro Preto e o Futuro], que ilustrou brilhantemente a
“estética da opacidade”.
comentário: A numeração da dissertação (p.1) começou na citação de Gorges Perec (que deveria ser a p.7.).
O problema não é inventar o espaço, muito menos reinventá-lo (há demasiadas pessoas bem-intencionadas hoje aqui para pensar no nosso meio ambiente…), mas questioná-lo,
ou, mais simplesmente ainda, lê-lo; pois o que chamamos de vida cotidiana não é
evidência, mas opacidade: uma forma de cegueira, uma forma de anestesia.
GEORGES PEREC
comentário:
Esse autor (Perec) não está nas referências ao final (e seria bom estar). Após a tradução (que também poderia estar em itálico), sugiro registrar “tradução livre nossa” em vez de “Tradução nossa”).
RESUMO
[…] caracterizamos a opacidade a partir de três elementos que, em nossa leitura, abarca a totalidade desse tema: opacidade como compreensão, opacidade como direito à diferença e opacidade como inesgotabilidade de interpretações.
comentário: Meu interesse em estudar a opacidade é pela via do “direito à diferença”.
comentário: É melhor usar “Elas são” em vez de “Trata-se de” (acesse recomendação de Sérgio Rodrigues). No inglês está bom com “These are”. Há outros exemplos disso a longo do texto.
p.11:
Édouard Glissant é um filósofo, romancista e poeta cuja obra ainda é pouco difundida
no Brasil. Nasceu em 21 de setembro de 1928, no morro Bezaudin, na cidade de Sainte-Marie,
Martinica. […]
SUMÁRIO
comentário: O uso do negrito em toda a página ficou pesado (melhor seria selecionar itens para usar o recurso). Eu usaria apenas em SUMÁRIO.
p.119:
OLIVEIRA, Marcos Fontoura de; GOUVÊA, Ronaldo Guimarães. Ouro Preto e o futuro [correção: Futuro, pois Futuro, nesse caso, é um personagem]. Belo Horizonte: Quixote + DO, 2023, [correção: “.” em vez de “,”] 96 p. [correção: eliminar o espaço antes de “p.”].