WOTZIK, E. (2023): WOTZIK, Eduardo (texto). Hannah Arendt – uma aula magna. Direção e atuação: Eduardo Wotzik. CCBB-BH, Belo Horizonte, de 24 de novembro a 18 de dezembro de 2023. (programa da peça, acessível por QR Code “contendo informações, livros, filmes, vídeos, que como uma ementa de aula, ajudarão o espectador a ampliar seus conhecimentos sobre o tema do espetáculo”). Disponível (programa) em: link externo. Acesso em: 25 nov. 2023.
comentário: essa peça integra lista do verbete Hannah Arendt.
Na peça, o ator Eduardo Wotzik (careca e de barba branca) chega ao teatro de salto alto e roupas femininas, puxando uma mala para dar uma aula para alunos (que somos nós, sentados na plateia). Algumas pessoas acham graça na indumentária. Sabemos que Hanna Arendt fumava muito, era um costume da época/lugar em que viveu. Ela pergunta aos “alunos” se pode fumar. Uma mulher na plateia rapidamente responde, alto, que “não”. Essa cena inicial já dá o tom da aula magna: um grito contra a intolerância. Se o texto é datado ou não, pouco me importou. É um texto histórico, que o autor tenta costurar nos dias de hoje, citando a internet, as fake news, Mariana e Gaza. Recomendo.
Enquanto assistia à peça, na noite da estreia em 24/11/2023, não parava de pensar em conversa acontecida mais cedo, na tarde do mesmo dia, na BHTrans, após palestra que ministrei sobre LGPD. Ao final, uma gestora da BHTrans me confidenciou o quanto se culpou, após ter conversado comigo, tempos atrás, por ter aprovado algo em uma estação de ônibus, que ela não deveria ter aprovado. Fiquei pensando se posso fazer uma analogia do “dizer que não sabia” com a “banalidade do mal” cunhada por Hanna Arendt para classificar o posicionamento de Adolf Eichmann que alegava apenas “ter cumprido ordens”. Alguns gestores internalizam tanto o que acham que seus chefes querem deles, que talvez consigam ser mais crueis do que eles seriam. Certa vez, há mais de vinte anos, eu disse a uma gestora da BHTrans, em uma discussão, após ela dizer que somos parecidos em nossa defesa da empresa: “podemos até ser parecidos em algumas questões, mas se nós tivéssemos trabalhado como guardas no campo de concentração de Auschwitz, pelo meu portão fugiriam muitas pessoas, mas pelo seu portão certamente ninguém fugiria, essa é uma diferença crucial entre nós”. Não sei se essa pessoa entendeu o que eu disse, naquele momento. Triste é constatar que essa pessoa continua ocupando cargo de confiança desde aquela época, até hoje, mesmo não sendo concursada. Eu que sou concursado, estudo permanentemente, e me pauto por um padrão bem mais cidadão que ela, não tenho mais cargo de confiança comissionado na empresa. E segue a luta…
meu comentário no facebook em 25/11/2023: