ARANTES. P, (2023a): ARANTES. Paulo. Mesmo sem projeto, Lula terá sucesso se frear extrema direita, diz Paulo Arantes. Entrevista a Eduardo Sombini. Folha de S.Pauo, São Paulo, 11 mar. 2023. Disponível em: internet (link externo). Acesso em: 11 mar. 2023.
comentário: essa longa e sólida entrevista é comentada (link externo) na Folha por Gabriel Feltran em 16/03/2023.
[RESUMO} A linha de poder que emanava das elites tradicionais, alcançava as polícias e os justiceiros e controlava os ladrões e pretos revoltados se rompeu, sustenta antropólogo, em um cenário de multiplicação de facções que controlam armas, mercados ilegais e territórios. Lula tem como inimigo o totalitarismo que brota da politização dos jagunços, hoje entranhados nos grandes negócios e na grande política, mas parece não ter entendido o alerta de Paulo Arantes: a política no Brasil se rebaixou à violência.
trechos:
Mesmo sem projeto, Lula terá sucesso se frear extrema direita, diz Paulo Arantes
Para filósofo, governo tem poucas alternativas e preservação da Amazônia o ajuda a comprar tempo; leia transcrição
11.mar.2023 às 7h00
Eduardo Sombini
Geógrafo e mestre pela Unicamp, é repórter da Ilustríssima
Paulo Arantes, professor sênior do Departamento de Filosofia da USP, se notabilizou por suas análises críticas das contradições do capitalismo brasileiro e da arquitetura política concebida pelo lulismo.
[…]
Em fevereiro, Arantes lançou em livro um ensaio publicado no início dos anos 2000, “A Fratura Brasileira do Mundo” (editora 34), que trata do debate sobre a brasilianização dos países desenvolvidos. Na conversa, o autor falou sobre a evolução dessa ideia, que expressa a piora das condições econômicas e sociais do capitalismo central, que se tornaria mais parecido com o Brasil.
[…]
Os franceses estavam começando a prestar atenção no que estava ocorrendo nos Estados Unidos e vendo se não estava ocorrendo algo análogo na França, mas nunca usaram a palavra brasilianização e começaram a ver como havia muitas semelhanças entre o que estava acontecendo: como eles chamavam, a nova pobreza francesa, os novos pobres, os excluídos, que é uma expressão francesa, os que estão do outro lado da fratura social, que é outra expressão francesa, estava acontecendo e estava espelhando os Estados Unidos.
[…]
O governo Lula fez aquilo que não imaginava que fosse fazer: reduzir danos. Isto é, ele comprou tempo para postergar cada vez mais esse encontro de contas, esse ajuste de contas que será feito no fim. Como ele comprou tempo? Ele tinha dinheiro do boom das commodities. Ele pôde irrigar com cash, com dinheiro vivo, essas pontas mais explosivas do tecido social, como se diz no jargão, que não existem mais. Então, ele irrigou as periferias de empregos, de dinheiro, programas sociais muito bem-planejados e desenhados. Funcionaram. Esses programas sociais foram desenhados para segurar as pontas, para o muro não ruir, e funcionou muito bem —todas as contrapartidas, muito bem-desenhadas—, é “best practice” no mundo inteiro. Como controlar os pobres sem mudar a sociedade, esse é o exemplo do Brasil. A Índia copia, o Paquistão copia, a Indonésia copia, a África copia. Todo o mundo quis fazer igual até que veio o bolsonarismo e destruiu isso.
[…]