ZONA (2023): ZONA DE INTERESSE. Direção: Jonathan Glazer. Reino Unido, 2023. vídeo, cor, 1h45′. Elenco: Christian Friedel, Sandra Hüller, Lilli Falk. Título original: The Zone Of Interest (adaptado do romance homônimo de Martin Amis).
comentário: esse filme integra lista do verbete Hannah Arendt.
observação: A história central se passa na casa onde Rudolf Höss morava comsua família, ao lado de Auschwitz, na cidade de Oswiecim. Personagens do filme viajam para Cracóvia, Viena e Budapeste.
crítica de Geraldo Martins no Instagram em 08/02/2024:
A filósofa Hannah Arendt em seu livro “Eichmann em Jerusalém” concebeu uma nova maneira de pensar a vida psíquica do criminoso, propondo o conceito de “a banalidade do mal”.
Ao ouvir Eichman relatar como colaborou para a morte de milhões de judeus, ela escutou a incapacidade dele para pensar. Seus atos não lhe causavam culpa, vergonha nem repulsa. Ele obedecia cegamente, sendo incapaz de pensar por si mesmo.Ele afirmou que “só ficava com a consciência pesada quando não fazia aquilo que lhe ordenavam”. Arendt, como Freud, mostraram ao mundo a complexidade do ser humano: anterior à razão e à capacidade de pensar e agir com ética, existe a pulsão destrutiva que é imperativa.
Jonathan Glazer adapta para o cinema o romance homônimo de Martin Amis: “Zona de interesse”. De um lado, temos uma casa idílica onde vive uma família supostamente feliz. Encostado no muro dessa casa está o campo de concentração de Auschwitz comandado por Rudolf. Ele é um pai de família amoroso, que conta histórias para seus filhos. Diariamente ele atravessa o pequeno portão de sua casa para chegar ao imenso portão do campo. Essa tênue divisão remete à vida diurna alegre que à noite é confrontada com pesadelos e assombrações. Vida e morte: dois mundos separados. O mundo pulsional transborda sobre a vida “feliz”. Vemos uma casa arrumada, com jardins, belos almoços e diversão na piscina. O horror vem dos sons que emanam do campo, das roupas íntimas dentro de sacos abertos para rateio entre as empregadas, de dentes de ouro que servem de brinquedo, de pedaços de osso boiando no rio, do barulho constante do crepitar do fogo nos fornos, da fumaça escura das chaminés, do latido dos cães, de gritos e do odor insuportável que invade tudo. “Zona de interesse” bebe no “Das Unheimliche” de Freud. O familiar retorna como “infamiliar”, sinistro e estranho. Glazer pinta com a cor da morte. Como Primo Levi nos assombramos: “É isto um homem?”.
Geraldo Martins – psicanalista
sinopse no Adoro cinema:
Zona de Interesse, longa-metragem britânico dirigido pelo cineasta Jonathan Glazer, é um drama histórico que se passa durante a Segunda Guerra Mundial. Adaptado do romance homônimo escrito pelo autor Martin Amis, no ano de 2014, em Zona de Interesse, Rudolf Höss (Christian Friedel), o comandante de Auschwitz, e sua esposa Hedwig (Sandra Hüller), desfrutam de uma vida aparentemente comum e bucólica, em uma casa com jardim. Mas, por trás da fachada de tranquilidade, a família feliz vive, na verdade, ao lado do campo de concentração de Auschwitz. O dia-a dia destes personagens se desenrola entre os gritos abafados de desespero, de um genocídio em curso, do qual, eles também são diretamente responsáveis. O longa ficcional, premiado em Cannes e indicado ao Oscar em cinco categorias, entre elas a de Melhor Filme, mistura drama, guerra e história, abordando o horror do nazismo, a partir de uma perspectiva singular e perturbadora.